
Por mais que eu me esforce no olhar, nem sempre me percebo ai dentro... esse rosto, esse meu rosto, não sou [sempre] eu... faço o que posso para melhorá-lo, cuido desta casca com todo o amor e ternura que deveria dedicar a um outro... não consigo, não sei, ainda não aprendi... às vezes nos prendemos dento do próprio ego com uma força tão grande, um flerte fatal em si... enquanto muitos procuram no outro, eu encontrei em mim a fidelidade, a cumplicidade, a tolerância, a certeza plena de sentimentos eternos (e quem é que não nutre essas ilusões?); e eu... eu não me deixo, não me exijo, não me desapego, não me esqueço... poder olhar pro próprio corpo e ver toda sua existência aqui, concentrada em um pergaminho móvel de si, dá uma sensação de poder incrível (tão forte e tão frágil quanto qualquer “te amo pra sempre”)... Pouco orgulhoso de si, vejo que minhas flores são de plástico (aquelas que não morrem jamais e que são horríveis)... um ser de plástico com coração de borracha... talvez, minha única virtude é ter a ciência da minha auto-dependência... se você sabe, calma, eu também sei! Sei que não preciso me deixar para encontrar, mas sei ainda, que não acharei nada enquanto continuar não procurando... admirar a si mesmo é sempre bom... mas cegar-se em si, mesmo que de forma branca, é descer ao fundo do lago de Narciso, e lá... de olhos bem abertos... pelo tempo de uma vida... se afogar (de uma forma poeticamente tola).