terça-feira, 15 de março de 2011

Eu moro na rua do tempo...



Salvo engano, exatamente um ano atrás eu abandonava “Aquele querido mês de agosto” pelo meio... Foi a segunda vez que deixei um filme pelo meio no cinema, nesse caso específico, num cinema que nem existe mais... onde tantas coisas insistem em me dizer quase diariamente que não existem mais... mal sabem elas que quanto mais elas se apresentam como ausências, mais eu as entendo como lembrança (lembrar com esperança)... esperança em crer que alguma coisa ficou, que não foi tudo em vão, que de algum forma eu pude transmitir algo (bom?)! Essa talvez seja a vida me mostrando o óbvio: um professor, um desejo de ensinar, de passar... talvez porque eu saiba que quando passamos algo adiante, estamos de certa forma, deixando um pedaço de nós, das nossas crenças, dos nossos afetos... estamos tendo a ilusão do eterno (e eterno não é presente, nem passado, nem futuro, é o tempo ausente do sempre)... e mesmo ao ver aquilo que foi “ensinado” sendo desprezado... salvo engano, prefiro prezar pela memória... porque não sou o que sei, não sou o que ensino... sou apenas o que lembro...
E eu me lembro de tudo!

“Josué,

faz muito tempo que não mando uma carta pra alguém, agora estou mandando esta carta pra você. Você tem razão, seu pai ainda vai voltar e com certeza ele é tudo aquilo que você diz que ele é. Eu me lembro do meu pai me levando na locomotiva que ele dirigia. Ele me deixou, uma menininha, dar o apito de trem a viajem toda. Quando você tiver cruzando as estradas, no seu caminhão enorme, eu espero que você lembre que fui eu a primeira pessoa a te fazer por a mão num volante. Também vai ser melhor pra você ficar aí com seus irmãos, você merece muito, muito mais do que eu tenho pra te dar. No dia que você quiser lembrar de mim, dá uma olhada no retratinho que a gente tirou junto. Eu digo isso porque tenho medo, que um dia, você também me esqueça. Tenho saudade do meu pai. Tenho saudade de tudo.

Dora” [cena final de Central do Brasil]
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Eu moro na rua do tempo...
... mas ainda não sei o número!

quinta-feira, 3 de março de 2011

Jantar com o leão



“Há algo que jamais se esclareceu
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia mesmo
O leão que sempre cavalguei” (Inverno – Adriana Calcanhotto)
“Eu ando sempre pra sentir vontade.” (Janta – Marcelo Camelo)